Hipnose e Terapia Psicodélica, Tudo a Ver

Durante as décadas de 1960 e 1970, vários estudos compararam os fenômenos deflagrados por sessões de hipnose com experiências produzidas por substâncias psicodélicas, explorando os benefícios potenciais de combiná-los em psicoterapia. Particularmente relevante foi a descoberta de que os psicodélicos parecem aumentar a sugestionabilidade. Outras pesquisas relataram o uso da hipnose para recriar, controlar, guiar e aprofundar estados de consciência induzidos pelas tais substâncias psicodélicas.

Neste contexto, com base em pesquisas anteriores sobre o potencial da hipnose na modulação dos efeitos psicodélicos da dietilamida do ácido lisérgico, Ludwig e Levine levantaram a hipótese de que a hipnose poderia ser usada em conjunto com o medicamento para melhorar o resultado terapêutico, em uma abordagem que ficou conhecida como Terapia Hipnodélica.

Uma vez que este estudo inicial foi de natureza preparatória, um estudo controlado foi realizado em seguida no qual 70 pacientes viciados em drogas narcóticas foram aleatoriamente designados para cinco técnicas de tratamento breve empregando o ácido lisérgico, psicoterapia e hipnose. Os resultados deste estudo revelaram que os pacientes tratados com a técnica hipnodélica (ácido lisérgico + hipnose + psicoterapia) em uma única sessão apresentaram melhora maior do que os pacientes tratados com uma única sessão de (a) ácido lisérgico + psicoterapia, (b) ácido lisérgico sozinho, (c) psicoterapia, ou (d) hipnose, quando avaliados 2 semanas e 2 meses após o tratamento. Além disso, uma alteração mais acentuada na consciência foi obtida durante a sessão de tratamento hipnodélico do que com o uso de qualquer uma das outras técnicas.

A principal contribuição do uso de substâncias psicodélicas é sua capacidade de produzir um estado mental em que pensamentos e sentimentos assumem um enorme senso de sentido, importância e significado. Enquanto sob a influência da substância, os pacientes parecem ter uma forma prolongada de “eureka” ou experiência “awe” em que velhas ideias podem ser vistas sob uma nova luz (“insight”) e novas ideias são mais prontamente aceitas. Para muitos, a experiência do tratamento permanece vívida em suas mentes e tende a induzir um período de introspecção e consideração de problemas pessoais que continua por alguns meses.

Atualmente, uma opção de medicamento com ação psicodélica, disponível em muitos serviços de saúde, é o cloridrato de dextrocetamina (um anestésico dissociativo com potente ação antidepressiva). Em relação ao tratamento da depressão, é importante destacar que cerca de 30% dos pacientes não respondem aos antidepressivos atualmente disponíveis, que estes antidepressivos levam cerca de 2 semanas para começarem a agir e até algumas semanas para que seu efeito se exerça plenamente. Já o cloridrato de dextrocetamina é um medicamento que caracteriza-se pelo rápido início de ação (seja dos efeitos antidepressivos, seja do efeito antissuicida) e também pela alta potência dos seus efeitos que podem trazer benefícios até mesmo para pacientes que não apresentam melhora com o uso prévio de antidepressivos.

Assim, a psicoterapia assistida por psicodélicos tem se tornado cada vez mais uma realidade na prática clínica, sendo que a hipnose pode ser uma alternativa a ser utilizada neste contexto, em conjunto com outras práticas psicoterápicas.

 

Fonte: Lemercier CE, Terhune DB. Psychedelics and hypnosis: Commonalities and therapeutic implications. J Psychopharmacol 2018; 32(7):732-740. doi: 10.1177/0269881118780714.

2 respostas
  1. Lais Araújo
    Lais Araújo says:

    Excelente artigo. Vim a ele em busca de analises sobre as similaridades entre os recursos da hipnose clínica e o uso da cetamina. Penso que a associação com psicodélicos deveria ser adotada em casos refratários à hipnose clínica Gostaria de sugerir uma correção ortográfica: substituir a expressão ‘nada haver’ por ‘nada a ver’. Parabéns pelo artigo.

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