A música e o som têm sido usados ​​desde tempos imemoriais para fins terapêuticos, socioculturais e espirituais. Historicamente, os curandeiros tradicionais ou xamãs usavam o som, particularmente os sons repetitivos, para induzir estados alterados de consciência, também conhecidos como estados de transe.  Nestes casos, as fontes sonoras podiam ser internas (por exemplo, a própria voz) ou externas (por exemplo, música ou sons de instrumentos).

De uma maneira geral, a cura pelo som tem sido usada por séculos e de várias formas por culturas em todo o mundo, por mais de 40.000 anos, incluindo povos nativos da África e América, tribos aborígenes australianas e monges tibetanos. Com este propósito, instrumentos antigos tem sido usados em cerimônias religiosas e espirituais, como taças tibetanas (geralmente produzidas a partir de uma combinação de ligas de metal), gongos, sinos, pratos e didgeridoo.

No contexto terapêutico moderno, diversos instrumentos musicais tem sido utilizados em um modelo de psicoterapia que combina respiração profunda, imagens mentais e meditação de diversos tipos. Muitos pesquisadores relatam que esta combinação de métodos terapêuticos pode ser um catalisador para a cura emocional e psicológica, quando bem empregada em sessões grupais acompanhadas por supervisão profissional.

Estas práticas psicoterapêuticas estão na base do que se conhece hoje por meditação sonora, uma abordagem de tratamento que pode ser definida como: o esforço repetido de trazer a mente de volta ao momento presente, sem julgamento e sem apego, a partir do treino de técnicas de respiração, do desenvolvimento da atenção plena e da experimentação do poder das frequências sonoras com o objetivo de restabelecer o bem-estar, a saúde física e mental. Portanto, a meditação sonora é constituída por 3 componentes básicos: a respiração consciente, o estado contemplativo e a harmonização sonora.

Uma teoria que tem sido utilizada para explicar os efeitos da meditação sonora inclui os efeitos potenciais das batidas binaurais, que levam o cérebro a experimentar a diferença de hertz entre os tons tocados em cada um dos ouvidos, deflagrando estados mentais de profundo relaxamento, com o aparecimento de ondas cerebrais de tipo beta ou teta. Este tipo de meditação pode, portanto, ser especialmente útil para diminuir a tensão em indivíduos que nunca praticaram alguma forma de meditação.

As pesquisas com meditação sonora tem revelado que os participantes apresentam significativamente menos tensão, raiva, fadiga e humor deprimido. Um estudo, em particular, demonstrou que tanto a meditação em silêncio, quanto a meditação sonora, utilizando didgeridoo por um período de 30 minutos, resultaram em mudanças positivas no humor e estresse de estudantes de graduação sem experiência com meditação. Imediatamente após este tipo de meditação sonora, os participantes experimentaram aumentos significativos no relaxamento e diminuições no cansaço, excitação negativa, perda de energia e autopercepção aguda do estresse.

Assim, a combinação de meditação e terapia sonora tem potenciais terapêuticos que tem sido estudados como alternativas benéficas para o humor, a tensão, a ansiedade, a dor física e o bem-estar espiritual. A meditação sonora é, portanto, uma modalidade de medicina integrativa mente-corpo que tende a ser cada vez mais pesquisada e incorporada à prática clínica, com contribuições importantes para várias condições de saúde mental e física.

Fonte:

  • Kamaira Hartley Philips, Carrie E Brintz, Kevin Moss and Susan A Gaylord. Didgeridoo Sound Meditation for Stress Reduction and Mood Enhancement in Undergraduates: A Randomized Controlled Trial. Global Advances in Health and Medicine 2019, Volume 8: 1–10. DOI: 10.1177/2164956119879367.
  • Tamara L. Goldsby, Michael E. Goldsby, Mary McWalters and Paul J. Mills. Effects of Singing Bowl Sound Meditation on Mood, Tension, and Well-being: An Observational Study. Journal of Evidence-Based Complementary & Alternative Medicine 2017, Vol. 22(3) 401-406. DOI: 10.1177/2156587216668109.