O tipo de meditação importa?

A onipresença do estresse psicossocial nas sociedades modernas é uma realidade emergente e faz com que a relevância das práticas de gerenciamento de estresse seja cada vez maior. A suposição quase generalizada de que a prática meditativa reduz o estresse pode, entretanto, nos levar a perguntar se os diferentes tipos de meditação são igualmente eficientes neste processo.

Primeiramente, a comparação com o esporte pode servir para ilustrar esse ponto. Claramente, o esporte não é uma prática unitária, mas um termo genérico para vários exercícios físicos que treinam partes específicas do corpo. Na mesma linha, a meditação compreende diferentes práticas visando faculdades mentais distintas, como atenção, consciência interoceptiva, habilidades socioemocionais ou sociocognitivas. Consequentemente, é razoável imaginar que nem todas as práticas devem produzir os mesmos efeitos e que o tipo de treinamento deve influenciar os resultados obtidos.

Os principais grupos de Meditação

Levando em consideração este questionamento, as práticas meditativas tem sido classificadas em 3 grandes grupos:

  1. Meditação de Presença: Meditações que enfocam a atenção ao momento presente e a consciência interoceptiva;
  2. Meditação de Afeto: Meditações que enfocam habilidades socioafetivas, como bondade amorosa, compaixão, motivação pró-social e aceitação de emoções difíceis;
  3. Meditação de Perspectiva: Meditações que enfocam habilidades cognitivas, incluindo metacognição, bem como assumir uma perspectiva sobre si mesmo e os outros.

O Projeto ReSource, realizado na Alemanha, investigou esses diferentes tipos de meditação e concluiu que, de fato, o tipo de prática faz a diferença.

Os pesquisadores mostraram que a Meditação de Presença é eficiente para aumentar a sensação de conexão com o momento presente, consciência corporal e desempenho atencional. A Meditação de Afeto, por outro lado, foi eficiente na redução da sensibilidade ao estresse social e no aumento das qualidades éticas e sociais do coração (por exemplo, altruísmo, compaixão e sentimentos de amor, cordialidade e preocupação). Já a Meditação de Perspectiva foi importante para as habilidades de negociação de conflito (por exemplo, tomada de perspectiva e meta-consciência).

Dentre esses diferentes tipos de meditação, os autores destacaram que a prática de escaneamento corporal, que compõe as Meditações de Presença, foi a que induziu o maior aumento na consciência corporal. A prática de bondade amorosa induziu o maior aumento nos pensamentos vivenciados positivamente e a prática de tomada de perspectiva aumentou a consciência metacognitiva (observação dos próprios pensamentos). Assim, enquanto a Meditação de Afeto mudou o conteúdo dos pensamentos, a Meditação de Perspectiva mudou a consciência do pensamento.

Sem dúvida, muitas pesquisas ainda são necessárias para avançar estes conhecimentos, mas as informações disponíveis já podem nos ajudar a adaptar programas de intervenção, considerando as necessidades específicas de populações e de pacientes individualmente.

Fonte: Singer T, Engert V. It matters what you practice: differential training effects on subjective experience, behavior, brain and body in the ReSource ProjectCurrent Opinion in Psychology 2019, 28:151–158

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