Meditação: presente, passado e futuro

Dos primeiros estudos fisiológicos de práticas meditativas nas décadas de 1950 e 1960 e os primeiros estudos clínicos de Herbert Benson na década de 1970, a pesquisa sobre meditação já percorreu um longo caminho até os dias atuais.

Em uma primeira onda de estudos, que remonta um passado recente em torno de 40 anos, pode-se situar a grande contribuição de Jon Kabat-Zinn ao propor uma “disciplina da atenção”, através de convergências da pesquisa sobre meditação com o crescimento explosivo da neurociência básica nas últimas décadas. Seus estudos, que deram origem ao que se conhece hoje como mindfulness, reformularam a noção de meditação como uma espécie de elo perdido na autorregulação consciente; conectando treinamento mental a processos eletroquímicos neuronais, por um lado, e regulação epigenética da transcrição gênica a conectividade neural, por outro. Quanto aos avanços dessa primeira onda, uma série de descobertas mostraram que a prática da meditação aumenta a regulação da reatividade ao estresse e das emoções aversivas, se encaixando bem com o crescente interesse clínico na prática de mindfulness como um complemento no tratamento cognitivo-comportamental de ansiedade, depressão e transtornos de personalidade. Estes estudos compõem, portanto, um modelo tradicional que prevê que o controle consciente da atenção e da consciência corporal envolverá principalmente as estruturas superiores do sistema nervoso central.

Em uma segunda onda de estudos, que compreende muito do que se tem pesquisado no momento presente, a convergência ligando pesquisa de meditação e neurociência avança ainda mais. Nesta onda atual, pode-se situar pesquisas sobre meditações afetivas focadas em cultivar equanimidade, gratidão, amor e compaixão, sendo realizadas em conjunto com o campo da neurociência afetiva e suas contrapartes clínicas, como a psicologia positiva. O significado maior desta segunda onda pode ser duplo. Primeiro, ela desafia e expande noções preconcebidas de meditação como uma prática limitada a estados desapaixonados, emocionalmente frios e de mera atenção intensificada, consciência sem conteúdo e atenção sem julgamentos. Em segundo lugar, essas práticas desafiam qualquer modelo simplista de meditação como uma cura para a desregulação da resposta ao estresse. Portanto, os estudos desta onda compõem um outro modelo em que as meditações afetivas envolverão estruturas intermediárias que suportam a linguagem, as imagens mentais e as emoções.

Ao olhar para os avanços futuros desse campo, é possível antever ainda uma terceira onda de estudos, a partir de pesquisas sobre a diversidade de práticas integrais realizadas em culturas tradicionais – incluindo Tantra hindu e budista, Kundalini Yoga, TM Siddhi, Qi-gong, Cabbala, misticismo cristão, sufismo e até mesmo rituais ameríndios – em suas convergências com a pesquisa no sistema nervoso parassimpático (SNP). Neste sentido, a síntese inovadora da neuropsicologia do nervo vago, proposta por Stephen Porges, abriu um novo horizonte para a pesquisa da meditação que vai mais fundo do que o vínculo cada vez mais aceito entre atenção plena e o funcionamento cerebral, e mais profundo do que o vínculo emergente entre meditação afetiva e sistema de regulação emocional; prometendo ajudar a explicar como as meditações de terceira onda podem afetar os centros primordiais da regulação mente-corpo no tronco cerebral. Assim, esses estudos poderiam constituir um conjunto de meditações integrais que envolverão estruturas mais profundas e que suportam funções corporais básicas, como frequência cardíaca, respiração, modulação dos sentidos, estados de consciência, digestão e reprodução.

 

Embora ainda em seu início, o campo da pesquisa científica da meditação já percorreu um longo caminho. À medida que um número crescente e variado de estudos lança luz sobre os mecanismos neurais e os efeitos benéficos de uma ampla gama de práticas meditativas, uma nova fase de convergência de práticas, tradições e conhecimentos se anuncia.

 

Fonte:  Loizzo J. Meditation research, past, present, and future: perspectives from the Nalanda contemplative science tradition. Ann. N.Y. Acad. Sci. 1307 (2014) 43–54

 

0 respostas

Deixe uma resposta

Want to join the discussion?
Feel free to contribute!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *